segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Agricultura de Precisão

José Rafael Marques da Silva,
Professor Auxiliar com Agregação, de Nomeação Definitiva, da Universidade de Évora

As ciências agronómicas são hoje em dia muito diferentes do que eram há 60 anos atrás. A intensificação da agricultura nos países desenvolvidos esteve inicialmente associada à selecção e ao melhoramento genético de espécies e ao desenvolvimento de fertilizantes industriais e de produtos fitossanitários.

Esta intensificação da actividade agrícola nos países mais desenvolvidos, originou no entanto, alguns problemas ambientais, levando por isso ao surgimento de novas formas de encarar a actividade agrícola. Surgiram assim a protecção integrada de culturas, a gestão de resíduos provenientes da actividade agrícola, a conservação do solo, o controle da poluição difusa, a produção integrada, etc.

O desenvolvimento sustentável representa um dos maiores desafios que a humanidade terá nos próximos tempos, são exemplos prementes dessa necessidade, a discussão tão actual sobre as energias alternativas, os gases que provocam o aquecimento global, a eficiência energética, as culturas bioenergéticas, etc.

Ao longo de séculos, o modelo de desenvolvimento do país tem evoluído duma agricultura de subsistência para uma agricultura industrializada. Actualmente, não existem duvidas de que a sustentabilidade na produção agrícola, passa cada vez mais, pela capacidade do país incorporar, de forma contínua, inovações tecnológicas que permitam atender às crescentes necessidades do mercado interno e ao mesmo tempo competir com os nossos parceiros internacionais. A concepção de novos produtos, processos e tecnologias terão que proporcionar avanços na produtividade, segurança e qualidade dos alimentos e proporcionar a sustentabilidade futura da actividade. É também imperativo que esta sustentabilidade tenha que estar fortemente aliada à protecção dos recursos naturais (solo, água, biodiversidade, etc), como tal, um contínuo investimento em conhecimento deve atender principalmente à protecção e à melhoria dos recursos finitos.

Há, no entanto, que considerar, que pela diversidade e complexidade da agricultura, os avanços tecnológicos existentes na agricultura industrializada, dificilmente serão suficientes para melhor posicionar a agricultura do futuro, do ponto de vista da sustentabilidade. A grande pressão da agricultura sobre o meio ambiente mostra-nos que é necessário procurar um novo patamar de conhecimento, patamar esse que compreenda a visão utilitária da agricultura, como produtora de alimentos e matérias-primas essenciais à sobrevivência e ao progresso do homem, mas que compreenda também outros valores para além dos valores estritamente económicos. A sociedade exige que o processo de inovação na agricultura incorpore, cada vez mais, valores de natureza cultural e valores de natureza ambiental.

Recentemente, novas tecnologias como a informática, a velocidade de processamento, o armazenamento de dados, os sistemas de informação, o GPS, etc., permitiram encarar a actividade agrícola de forma diferente, surgiram assim novas formas de gerir esta actividade, formas essas baseadas no conhecimento intensivo.

Poderemos chamar à gestão da actividade agrícola, baseada no conhecimento intensivo, muita coisa, no entanto, um dos nomes que mais se tem vulgarizado tem sido “AGRICULTURA DE PRECISÃO”.

Uma das definições de agricultura de precisão, que pessoalmente mais gosto, é a seguinte: “Agricultura de Precisão consiste no uso de informação referenciada com o objectivo de efectuar uma gestão diferenciada dos factores de produção, através da integração de vários tipos de tecnologias, tais como: sistemas de informação, geográficos ou não; sistemas de posicionamento global; sensores diversos, locais ou remotos e tecnologias de aplicação variável de factores de produção”.

A agricultura de precisão é um conceito cujas possibilidades futuras poderão ser muito interessantes. Como todas as realidades que envolvem tecnologias, será necessário investir seriamente em tempo e em recursos para que se possa atingir alguma maturidade. Este tipo de investimento tem normalmente um retorno no médio e longo prazo. A perplexidade que a evolução tecnológica mais recente gera, dificulta inclusive a introdução da mesma pois, fica sempre a sensação de que se adiarmos por algum tempo a sua aquisição permitirá adquirir posteriormente um equipamento mais evoluído e mais barato que o anterior. Todos os dias surgem novos equipamentos que melhoram a capacidade de enfrentar novos desafios em todas as áreas do saber. Em muitos deles as aplicações podem ser extraordinárias.

Da bibliografia disponível sobre estudos de agricultura de precisão verifica-se que esta é uma actividade bastante exigente no que confere a equipamentos, software, gestão de bases de dados e meios humanos. Se determinado tipo de equipamentos se torna obsoleto em 3 anos, como noutras tecnologias baseadas em computadores, então o custo anual da sua utilização será surpreendentemente alto, isto já não considerando as decisões erradas que podem eventualmente acontecer por ser uma tecnologia relativamente recente.

Os benefícios deste tipo de tecnologia são muito difíceis de medir pois, os factores controladores da produtividade ou de outras variáveis qualitativas, estão constantemente a mudar no espaço e no tempo, como tal, as interacções são muitas e muito difíceis de isolar. Um dos benefícios normalmente apresentados na bibliografia tem a ver com os aspectos ambientais, no entanto estes aspectos nunca são tidos em conta nas medições efectuadas.

Para além dos casos listados na bibliografia, onde a existência de benefícios com a agricultura de precisão é um facto, existe um benefício presente e futuro que geralmente não é tido em conta nas análises que são efectuadas, benefício esse associado ao custo da informação. Num futuro, que se prevê recente, o uso da terra para fins meramente agrícolas, deixará de estar associado a uma estrutura produtiva de base familiar e passará a estar associado a estruturas empresariais altamente profissionalizadas onde o dono da terra não será aquele que explorará a mesma. Anteriormente o empresário agrícola tinha tempo para conhecer a sua terra, conhecimento que ia adquirindo ao longo de muitos anos e de muitas decisões acumuladas. No futuro as empresas terão que ter acesso a essa mesma informação num espaço temporal muito mais reduzido, dando inclusive preferência à informação em tempo real. A actividade agrícola está a tornar-se numa actividade industrial que tem por base o conhecimento, onde a base de dados que o empresário e os seus colaboradores conhecem se torna num factor fundamental para o sucesso e rentabilidade do sistema, bem como para a sua sustentabilidade.

2 comentários:

Unknown disse...

Como recente conhecedor das matérias e potencialidades da agricultura de precisão, por via da inscrição nesta disciplina no âmbito do mestrado em engenharia agronómica, face aos ainda escassos conhecimentos que detenho da matéria, parece-me contudo que as ferramentas disponibilizadas apresentam grande interesse na possibilidade de integração com outras matérias dentro das ciências agrárias, acrescentando valor em domínios tais como, por exemplo, agricultura de conservação, monitorizando a aplicação e os benefícios da adopção das suas técnicas, ou da gestão e ordenamento silvícola, onde a dificuldade do acompanhamento e da análise de áreas com uma grande dimensão poderão beneficiar largamente do recurso ás tecnologias inerentes á agricultura de precisão.
Luís Machado

Unknown disse...

Olá meu nome é Joel e sou de Balsas no Maranhão sou produtor Rural ha 15 anos na região e ha 6 de uso de agricultura de precisão na minha região. tenho um blog de difusao de conhecimento se por acaso quiser dar uma olhada http://agriculturaprecisao.zip.net e na minha opinião a AP vai diretamente ao encontro dos dois principais estigmas de debate que a sociedade se pergunta hoje em dia que é a conservação ambiental e o aumento de produtiidade com redução de custos. Só por isso a AP deveria ter muito mais visibilidade do que tem hoje e mais disponibilizada em termos de informações coesas e confiáveis aos produtores e a sociedade em geral para que o produtor possa fazer a sua parte e o resto da sociedade cobrar.